As cinco câmaras do Nokia 9 PureView: uma maravilha tecnológica ou “fogo de vista”?

Desde que adquiriu a marca Nokia (para smartphones) que a chinesa HMD tem procurado implementar características diferenciadoras para conquistar utilizadores para a marca que praticamente inventou o mercado dos telemóveis. O Nokia 9 PureView é o mais recente e talvez melhor exemplo da aplicação disso mesmo.
Como aconteceu no início da era dos smartphones, onde a Nokia foi pioneira na integração de câmaras de grande qualidade, o novo Nokia topo de gama também aposta nas câmaras e nas lentes com a marca Carl Zeiss. E são, nada mais nada menos, que cinco câmaras e respetivas lentes.
Sem zoom
O Nokia 9 PureView está longe de ser o primeiro smartphone com várias câmaras na traseira. Por exemplo, o recentemente lançado Samsung Galaxy S10 tem três, o mesmo número que o Huawei Mate 20 Pro já usava. Mas a regra tem sido utilizar as câmaras extra para ter maior amplitude ou mais zoom. Ou seja, a segunda e/ou terceira câmara normalmente são usadas quando o utilizador quer mais ou menos zoom do que o conseguido pela câmara principal. Não é o que acontece no Nokia 9 PureView. As cinco câmaras deste smartphone foram desenvolvidas para trabalhar em conjunto de modo a gerar uma única imagem com grande pormenor, sobretudo no que concerne ao intervalo dinâmico – capacidade para captar detalhe tanto em áreas do enquadramento com muita luz como em zonas de sombra.
Uma tecnologia que não é originária da Nokia, mas sim da Light, que ficou conhecida por ter criado a L16, uma câmara com 16 lentes e sensores que são usadas para produzir uma única imagem de grande detalhe. Cada uma das câmaras da Light L16, como as do Nokia 9 PureView, tem características diferentes. Por exemplo, alguns sensores têm píxeis maiores para conseguirem captar mais luz, o que permite obter mais detalhe em cenas escuras, outros sensores têm píxeis mais pequenos para captarem menos luz, lidando melhor com as partes do motivo muito iluminadas. As diferentes imagens apreendidas pelos diferentes sensores são depois processadas e combinadas por algoritmos de modo a criar uma única imagem de alta resolução e grande intervalo dinâmico.
A utilização de vários sensores e lentes permite ainda captar muita informação sobre a distância relativa dos vários elementos que compõem o enquadramento. Mais ainda porque há um elemento junto às câmaras especificamente para a medição da profundidade. À primeira vista, parecem ser sete câmaras na traseira do Nokia 9 PureView, mas só apenas cinco. Os dois elementos extra são o iluminador (flash) e o tal medidor de profundidade.
Esta medição e a informação apreendida pelos diferentes sensores permitem alterar a profundidade de campo (área focada) à posteriori no software de edição. O objetivo é conseguir o “efeito bokeh” mais realista, mais próximo do conseguido por câmaras e lentes profissionais.
E resulta?
Na breve experiência que tivemos com o Nokia 9 PureView no stand da marca no Mobile World Congress 2019, as imagens pareceram-nos muito ricas em detalhe e com grande intervalo dinâmico. Por outro lado, a foto demorou bem mais do que o normal a aparecer no ecrã. Fomos informados que o desempenho iria melhor antes de o smartphone chegar ao mercado porque os engenheiros ainda estão a trabalhar no software de controlo e nos algoritmos que tratam e juntam as imagens.
Não é de estranhar que o sistema seja relativamente lento. Segundo informações da HMD, cada uma das imagens resulta da junção de diversas exposições das cinco câmaras de 12 megapíxeis cada: três são monocromáticas e duas são a cores. A somar a isto há que contar com 1200 camadas relativas à distância focal. No total, há 60 a 240 megapíxeis que são processados para se produzir a imagem final de “apenas” 12 megapíxeis. As fotos podem ser armazenadas em formato RAW (DNG) para aumentar as possibilidades de edição. Neste caso, cada foto fica armazenada num ficheiro de cerca de 30 megabytes.
Teremos de esperar para ver até que ponto o Nokia 9 PureView consegue competir com os melhores smartphones do mercado no que à fotografia diz respeito. Mas não há dúvida que esta forma de processar as imagens tem grande potencial.

Comentários